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De Estância Em Estância

Gravadora: Continental - 1969 - CLP-9071


Músicas

Lado A - 01 - Oração de São Jorge

Intérprete: Gildo de Freitas

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Meu glorioso São Jorge o seu cavalo pegou
Naquele mesmo momento pos o areio e montou
Sua viagem seguiu, na porta do céu chegou;
E Jesus lhe atendeu
Quando São Jorge bateu, porém antes perguntou:

Quem bate na minha porta com tanto desembaraço;
Eu sou o coração de bronze, o valente peito de aço.
Sou Jorge, braço forte, sou o guarda do espaço
Sou valente peleador,

E venho pedir ao Senhor para guiar os meus passos.
Preciso da Sua ajuda em tão triste hora eu Lhe digo
Com a Sua proteção enfrentarei os perigos
E disse Jesus: eu dou, és meu anjo, és meu amigo
Eu vou te dar sete cruzes,
Com o poder de Jesus pra prender seus inimigos.

Eu vou te dar sete cruzes para tua salvação
Levara uma na testa que esta é tua direção
Três nas costas, três nas frontes, com a minha proteção
E farás como te digo
Que todos teus inimigos nenhuma força terão

Se eles tiverem olhos nunca te enxergarão
Com armas branca e porrete com revolver e munição,
Qualquer espécie de armas nunca te atingirão
Tens a mim que te governa
E eles com braços e pernas nunca te alcançarão.

E foi assim que São Jorge recebeu lá do além
Este tão grande poder que de hoje e dia ele tem
São Jorge tu me defenda e os meus amigos também
Me benzo com teu auxilio
Em nome do Pai e do Filho, do Espírito Santo, Amém!

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Lado A - 02 - Gaúcho Guapo

Intérprete: Gildo de Freitas

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Houve uma festa de muita importância
Era uma festa de gineteada
Foi promoção de um dono de estância
Pra dar um prêmio para a gauchada
Tinha um picaço por nome Esperança
No lombo dele não parava nada
Eu não sou cria de raça bem mansa
Me resolvi de topar a parada

Eu cheguei lá no horário certo
Tava a fazenda toda enfeitada
Tava o picaço relinchando alerto
Metendo medo em toda a gauchada
Tava o patrão, uma filha perto
Já de vereda pedi a bolada
Eu sou gaúcho que não me aperto
E gosto mesmo de lida pesada

Já de vereda eu apertei os caco
Montei pra cima e baixei o laço
Fazendo cócegas só no sovaco
Cantarolando as esporas de aço
Dava corcóvio de arrancar cavaco
Que embodocava o lombo do picaço
Cada corcóvio que dava o velhaco
Eu dava nele dois ou três laçaço

Corcoveou mais que meia hora
E eu sorrindo em cima do lombo
Dando comida pra minha espora
E abrindo talho que saia um rombo
Corcoveiava muito a campo fora
Porém nunca sem me dar um tombo
Pra mim cair só de caipora
Porque a desgraça é coisa que eu não sondo

Esse cavalo parou de repente
Dando sinal que não podia mais
A trotezito voltei novamente
Fazendo tudo que um ginete faz
Já encontrei o povo contente
Batendo palma me dando cartaz
E disse a moça pra qualquer vivente
Para ficar de seu capataz

Eu aceitei a capatazia
Depois mais tarde me casei com a prenda
Foi o prêmio desta montaria
Ganhei a china e aumentei a renda
E vocês comprem nessa livraria
Que existe um livro que conta esta lenda
Dei lhe porrete nele a revelia
Fiquei de dono daquela fazenda

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Lado A - 03 - Resposta da Milonga

Intérprete: Gildo de Freitas

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Ô Teixeirinha um dia destes
Eu andei lá na fronteira
Lá aonde tu perdestes
Pra gaúcha milongueira

Um lugar muito bonito
A china bonita e bela
Só achei muito esquisito
Tu ter perdido pra ela

E eu cantei lá, um pouquinho
E ela também cantou
Depois nós os dois sozinhos
Está história me contou

Quando o Teixeirinha veio
Cantei com ele e venci
Contigo dei um floreio
Me entreguei, me convenci

Eu ali tou resolvida
Saí no mundo sem fim
Te entregar a minha vida
E faça o que quiser de mim

E foi assim a história
E sem ofender a ninguém
Venci, sobrando de glória
E trouxe a China também

Ô Teixeira assim se queres veres
Aquela que te venceu
Tu podes apareceres
Mas quem manda nela é eu

Viva e cheia de alegria
E contente quase louca
Se eu deixo, ela passa o dia
Beijando na minha boca

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Lado A - 04 - Gaúcho Fracassado

Intérprete: Gildo de Freitas e Zezinho

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Vou contar a minha vida
É triste, mas é verdade
Porque que eu fui obrigado
A conviver na cidade
Eu fui hospitalizado
Com corpo todo entrevado
E sendo sacrificado
Com a triste dor da saudade

As quedas de ginetiada
Trouxe amargura pra mim
Fiquei com as pernas entrevada
Por ter deslocado um rim
Perdi todas as esperanças
Não prestei mais pra estância
E vivo nessa distância
Tristonho e sofrendo assim

Com a minha lidas de campo
Eu muito tenho sonhado
Ainda está noite sonhei
Que eu lidava com gado
Que muitos bois eu lacei
Naquela hora eu gostei
Porém depois me acordei
Na mesma cama deitado

A saudade me dói mais
Que minhas pernas encolhidas
Se eu não ficar bem perfeito
Para fazer minhas lidas
Jesus com os poderes seus
Veja os sofrimentos meus
Peço pelo amor de Deus
Que encurte minha vida

Porque eu prefiro morrer
Que ficar sem fazer nada
Porém eu deixo um pedido
Pra minha companheirada
Perdoai meus erros
E fazer o meu enterro
Ali na costa do cerro
Aonde dorme a boiada

Outro pedido ainda deixo
Pra meus fieis companheiros
Escrevam na minha campa
Aqui descansa um campeiro
Pode cantar bater palma
Que a minha matéria acalma
E hão sentir minha alma
Sempre ajudando os tropeiros

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Lado A - 05 - A Mula do Falecido Palmeira

Intérprete: Gildo de Freitas, Tia Eva e Nelson Souza

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Pra mulão de qualidade só sendo a minha tostada
A mula me conhecia eu até pela pisada
Tinha uma franja bem grande de cola e crina aparada
Ganhou uma vez numa festa uma figa pra cabeçada

Eu cheguei a injeitá três mula pela tostada
Tinha uma mula picaça das quatro pata calçadas
Tinha uma mula rosilha e outra vermelha dourada
E eu arrespondi pro dono não me agradei da mulada

Quem vê eu contar a história pouco crê e dá risada
Mais a mula merecia por ser bem assinalada
Tinha uma estrela na testa pela natureza dada
Parecia a Estrela Dalva sinalando a madrugada

Hoje se eu deito eu não durmo é me lembrando da
coitada
Vou contar pelo que foi minha mula foi roubada
Agarrei a minha pistola com bala bem azeitada
Abandonei o meu rancho saí campeando a tostada

Eu me encontrei com o ladrão a cada de tempo na
estrada
Vinha vindo numa mula magrinha e mal encilhada
A mula me conheceu ali ficou empacada
Pela estrela eu conheci que era a minha tostada

O ladrão de prevenido fez a primeira pegada
Puchemo as pistola junto e as balas foram trocada
Uma bala eu peguei nele outra bala peguei na tostada
E a pobre da minha mula teve um fim triste na estrada

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Lado B - 01 - João De Barro

Intérprete: Gildo de Freitas

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Lá no meu rancho eu alevanto cedo
E vou pra o terreiro tomar chimarrão
Dos passarinhos lá no arvoredo
Eu sempre escuto uma linda canção
Ainda esses dias eu pitava um cigarro
E apreciava uma construção
A obra fina de um João-de-Barro
Que construía num pé de cocão
Fez esta obra assim desta maneira
Trazendo barro do próprio biquinho
Depois de pronta trouxe a companheira
E os dois cantavam na porta ninho

O João-de-barro um dia saiu
Buscar comida para o filhotinho
E um menino malicioso viu
Foi negaciando o pobre bichinho
O coitadinho no fazer seu pouso
Naquele galho que tinha comida
Foi recebendo desamoroso
Um pelotaço e tombou sem vida
Tenho por vício de alevantar cedo
E ir pro terreiro pitar meu cigarro
Só oiço o som lá no arvoredo
Porém não oiço
Mais meu João-de-Barro

Só oiço ela, pobre barreirinha
Muito tristonha olhando da porta
Talvez rezando e pedindo a Deus
Para mandar seu barreiro de volta


Como é bonito amanhecer na mata
Ouvindo o canto desses bichinho
Oh, criançada não me seje ingrata
Não se maltrata os pobres passarinho
Vocês devem em quando isto pensá-lo
Devem tratá-lo com mais carinho
Se vocês fazem como o Gildo diz
Serão mais feliz e meus amiguinhos

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Lado B - 02 - Aguardo Sua Visita

Intérprete: Gildo de Freitas

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Se um dia fores lá no meu ranchinho
Ver a beleza que eu tenho por lá
Se tu entrares nele um bocadinho
Periga até tu nem querer voltar.
Eu precisava que fosses lá
Dar-me o prazer com a tua visita
Pra ver de perto o meu papagaio
Dizer bobagens para as caturritas.

Tomar o leite da vaca brazina
E ver o porco gordo no chiqueiro
Ver a parreira do lado do rancho
E as galinhas gordas no terreiro.
E uma horta que plantei no fundo
Ver o jardim que eu plantei na frente
Ver meu cavalo que é o melhor do mundo
Beber a água da minha vertente.

A água clara parece platina
E nasce mesmo bem no pé da serra
Assim Deus queira que você menina
Vendo as belezas lá da minha terra.
E um rancho humilde é de pau a pique
Mas com capricho, eu mesmo que fiz;
E dona dele, quero que tu fique
Que assim nós dois seremos felizes

Tem galinhada, vaca, porco gordo
Pra se comer tem tudo que se quer
porém só falta tu entrar de acordo
Que rancho gaúcho precisa mulher.
E queira Deus que seja nossa sina
De eu entregar-te aquele ranchinho
Eu casarei com você menina
E deixarei de viver sozinho
E só isso que eu venho a procura
Que eu tenho fartura, mas falta carinho

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Lado B - 03 - Rancho Vazio

Intérprete: Gildo de Freitas

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Meu velho rancho gaúcho, hoje és tapera velha isolada
Sem um carinho, sem nada a tristeza te invadiu
A olhar-te desse jeito eu cheguei a conclusão
Que tu e o meu coração são dois ranchinhos vazios.

E topé de paraíso que sempre fostes podado
Hoje te acha abandonado com as folhas toda amarela
A culpada foi aquela de uma falsidade alta
Que há de sentir a falta de tudo o que eu fiz por ela.

E do teu terreiro amigo que sempre fostes varrido
Hoje te acha invadido de espinhos e macegais
Vou fazer-te uma limpeza para ver se te realça
Mas aquela mulher falsa não entra aqui nunca mais.

Olha ali só que tristeza como está minha mangueira
Nem as varas da porteira que eram novas não existem
E tu palanque de angico como estais forte, bem lindo
O que eu to resistindo, só tu palanque resiste.

Palanque tu foi plantado para aguentar o tirão
O meu pobre coração já nasceu com a mesma sina
De tanto levar tirões tu vive todo cortado
E eu também remarcado dos golpes daquela china.

Mas eu vou mudar de vida, vou varrer bem meu terreiro
Pôr um porco no chiqueiro e cuidar da vaca tambeira
Vou renovar a mangueira vou cuidar da plantação
Para esquecer o tirão daquela china caborteira

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Lado B - 04 - Briga de Casal

Intérprete: Gildo de Freitas

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Tem gente que acha que a vida de artista
Ela ofereça só coisinha boa
É uma vida cheia de floreio
Tem voltas alegre e outras que enjoa.
Por eu levar uma vida assim
Uma chinoca se agradou de mim
Estou separado da minha patroa.

Fiz esses versos, não por covardia
Por que eu resisto o que der e vier
A passo lento eu acompanho a volta
A estrada larga que o mundo tiver.
É melindroso esse nosso assunto
Mas já vivemo tantos anos juntos
E eu faço falta pra aquela mulher.

Eu reconheço que o meu erro é grave
Mais um artista viajar sozinho
Você em casa é quem fica com a chave
Me faz voltar no mesmo caminho.
É melindroso esse nosso assunto
Mas já vivemos tantos anos junto
E nós precisava de morrer juntinho

Esta letrinha serve de conselho
Você precisa ouvir e compreender
Para a família eu sempre dei fartura
Pros filhos nunca faltou o que comer.
É melindroso esse nosso assunto
Nós já vivemos tantos anos junto
E eu não me animo a te ver sofrer.

Eu só não quero que faça loucura
Meu bem tão pouco desejo teu mal
Para evitar teus ato de bravura
Foi que eu quebrei aquele punhal
É melindroso esse nosso assunto
Mas já vivemos tantos anos junto
E mais tarde um dia pode ser igual

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Lado B - 05 - Prova de Repentista

Intérprete: Gildo de Freitas

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Meus amigos hoje temos o grande prazer de apresentar
um dos maiores repentistas do Brasil, Gildo de Freitas
que se encontra neste palco e vocês estão à vontade
para escolher um tema para o Gildo de Freitas
improvisar um verso. Querem pedir querem têm alguma
uma idéia querem pedir?

-Faz versos pra vovozinha

-Péra ai meu amigo o senhor parece que está querendo
divertir a custa de Gildo de Freitas e como eu já
disse no início, Gildo de Freitas é o maior repentista
do Brasil.

-Perdão meu amigo, eu já bem sei que o senhor. tá
querendo me defender minha causa, mas é de justo o
mocinho têm razão, pois é de fato você disse para
escolher o assunto e o menino se agradou desse assunto
e isto também é um assunto pra quem faz versos.

-Você está de acordo Gildo de Freitas?

- Mas como que não, gaiteiro velho puxa esta gaita índio velho

-Muito Bem


Mocinho preste atenção
E tu falasse em vovozinha
Querendo me fazer pouco
Porém eu não perdo a linha
Se ela é morta Deus que dê
Bom lugar para esta velhinha
Se ela é viva e me escutar
Dê valor pra idéia minha

Menino eu tenho certeza
Que tu já te arrependeu
O ventre que te gerou
Daquela velha nasceu
Para criar sua mãe
E sabe lá quanto sofreu
Foi por intermédio dela
Que o senhor apareceu

Menino tu me perdoa
Mais não posso ficar quieto
Garanto que a tua vó
Rezou muito pelo neto
Para que tu te criasse
Um homem honesto e correto
E o senhor não sabe dar
Pra ela o valor completo

Você me fez pouco caso
Porém a mim não me afeta
Porque o perdão tem lugar
Pra pessoa analfabeta
Já atendi seu pedido
Escuta calmo e te aquieta
E nunca mais faço pouco
De a memória de um poeta

Aí oh platéia me perdoe
De tudo que eu disse agora
E o senhor caro mocinho
Meu verso não ingnora
O relógio tá dizendo
Gildo Freita vai te embora
Boa noite que eu vou com Deus
E fiquem com Nossa Senhora

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