Eu destinei um passeio
Domingo muito cedinho
Peguei o meu violão
E fui pro mato sozinho
Descobri uma figueira
Com os galhos cheios de ninhos
E passei a manhã inteira
Em baixo dessa figueira
Apreciando os passarinhos
Como eu tava achando lindo
O viver dos passarinhos
Se via perfeitamente
Vir com a fruta no biquinho
Se via quando eles davam
No bico do filhotinho
E eu ali estava entertido
Com o viver tão divertido
Da vida desses bichinhos
Depois veio o negro velho
E também trazia um negrinho
E este tinha uma gaiola
E dentro dela um bichinho
Perguntei que bicho é este
Diz ele esse é um canarinho
Com este bicho que está aqui
Nas florestas por aí
Eu caço qualquer passarinho
Cantava que redobrava
Aquele pobre bichinho
Parece até que dizia:
É triste eu viver sozinho...
Só porque eu fui procurar
Comida pros filhotinhos...
E fui tirar desse alçapão...
Hoje eu estou nessa prisão
E nunca mais fui no meu ninho
Aí eu fui recordando
O que já me aconteceu
A muitos anos atrás
Que a polícia me prendeu
O juíz me condeno
E depois de mim se esqueceu
E eu pelo rádio escutava
Quando os colegas cantava
E aquilo me comoveu
Então eu fui perguntando
Quanto quer pelo bichinho
Respondeu ele eu não vendo
Eu cacei pra o meu filhinho
Porém saiu uma voz
Da boca do gurizinho
E a gaiola custo 10
Quem me der 20 mil réis
Pode levar o passarinho
Comprei com gaiola e tudo
Para evitar discusão
E fui abrindo a portinha
E abrindo meu coração
E o bichinho foi saindo
E eu peguei meu violão
E num versinho eu fui dizendo
O que tu estava sofrendo
Eu já sofri na prisão
Quem vai caçar de gaiola
Pra ver os bichos na grade
Deveria ser punido
Pelas mesma autoridade
Porque o coração dos bichos
Também conserva amizade
O lei tu faça o que puder
Mas os bichos também quer
Ter a mesma liberdade
Oh minha querida mãe
Eu espero que essas linhas
Vai encontrar com saúde
Minha querida mãezinha
Como eu não vou em pessoa
É que eu mando esta cartinha
Pra buscar noticias tuas
E levar noticias minhas
Oh minha querida mãe
Tu de lá e eu daqui
Por mim eu sei que tu clama
Eu também clamo por ti
Mas eu vivo carregando
Está cruz que eu recebi
Mas dos teus doces carinhos
Ainda não me esqueci
Oh minha querida mãe
Digo com sinceridade
Só uma dor me maltrata
É esta malvada saudade
Te ver junto dos meus braços
É toda a minha vontade
Seria pra mim na vida
A maior felicidade)
Jesus cordeiro divino
Nosso Senhor do Bom Fim
São Jorge porque não faz
Eu ter um viver assim
Que eu viva pra a minha mãe
E ela viva para mim
Seria pra mim na vida
Uma alegria sem fim
Eu queria que estes versos
Tivesse boca e falasse
Eu queria que essas rimas
Tivesse lábios e beijasse
Que tivesse compreensão
Que fizesse o que eu mandasse
Para chegar de surpresa
E beijar as suas faces
Manda e vai rolar rapaz,
era bem assim que se dançava lá no velho Chico.
Eu fui um baile na casa do Chico Torto
Era um baile buenacho e solto, mas só dançava valente
Quando eu cheguei à receita tinha se dado um reboliço danado
E a tinha um morto na frente
Aquele rapaz que tava morto
não era de raça morredeira
mais facilitou e a faca pegou ele
e já se foi pra já compadre.
Paguei entrada e dancei que fiquei corcunda
E quando eu cheguei lá nos fundos tinha um outro se lelando
Eu sou gaúcho que entendo deste assunto
Fiz uns versos pro defunto
E voltei pro salão dançando
Não ia dançar mais,
mas o falecido tinha umas primas bonita
que era um raio. Eu pensei comigo,
eu agora arrumo pra dançar com a prima dele de par
ou me descadero tudo de uma vez.
Preguei no grito gaiteiro toque um dobrado
E um xirú desconfiado me olhou com os olhos feios
E eu só gaúcho que conheço uma esgrima
Prendi no facão por cima e parti a gaita no meio.
O rapaz andava mal de vida,
e eu sempre ouvi dizer
que duas coisas valem mais do que uma,
resolvi fazer duas gaitas pro vivente.
Já disparou e terminou-se a folheria
E uns quatro ou cinco gemia e o resto já tava morto
Como eu gostei daquele divertimento
Baile bom cento por cento só se vê no Chico Torto
Este Alegrete foi a terra que eu nasci
Depois no mundo eu andei, virei eu mexi
Mas sempre peço quando Deus mandar a morte
Também mande uma sorte de eu morrer junto de ti
Meu Alegrete, dos gaúchos campeiros
Dos corações bondosos e bem hospitaleiros
Este Alegrete é lugar de boa fé
Quem sai daqui quer voltar, se Deus quiser
E o gaúcho quando sai desta cidade
Quase morre de saudade eu não sei pelo que é
Meu Alegrete, dos gaúchos campeiros
Dos corações bondosos e bem hospitaleiros
Eu quando estou num lugar muito distante
Que eu deito e durmo e sonho com esta cidade
Eu me acordo já um tanto comovido
Passo o dia aborrecido quase louco de saudade
Meu Alegrete, dos gaúchos campeiros
Dos corações bondosos e bem hospitaleiros
Agora sim eu tô cantando mais contente
Eu me acho aqui no meio desta gente
Agora sim eu tô derrubando a saudade
Da minha velha amizade porque voltei novamente.
Meu Alegrete, dos gaúchos campeiros
Dos corações bondosos e bem hospitaleiros
Por ser gaúcho eu já fui bem feliz no mundo
Já fui gaúcho que tive muito valor
Já tenho dado muitos bons tiros de laço
Em campo alheio em campereada de amor
Até as próprias gauchinhas também sabe
Que eu nesta vida fui gaúcho laçador
Campereando em palestra com as gaúchas
Caiu diversas por eu ser pialador
A minha gaita eu comparo com cavalo
Os foles dela eu comparo com arreios
E o teclado da gaita serve de campo
E os meus dedos são cachorro num floreio
E em quantas vezes em Campereada de amor
Puxei na gaita de grito eu parei rodeio
As gauchinhas então ficavam arrodiando
E o gaúcho ia laçando do meio
Já tenho feito campereada nesta vida
Mas são campos de amores e carinhos
Há poucos anos eu me achava campereando
Nos verdes campos da invernada de um vizinho
Alevantei o meu laço com esperança
E o malvado foi cerrando os bocadinhos
Foi agarra uma gaúcha meia espalda
E foi no laço pra dentro do meu ranchinho
E foi o tempo se passando e nois no rancho
Com alegria dentro daquela morada
Não encilhei mais o meu cavalo amigo
E não puis mais meus pé noutra invernada
Não atirei mais o meu laço caprichoso
Eu nunca mais pude dar outra pialada
Eu nunca mais parei rodeio em outros campo
Eu nunca mais pude fazer campereada
Correr dos anos arrecebi um fracasso
Porque a tristeza invadiu minha morada
O meu cavalo uma cobra venenosa
Me matou ele lá no fundo da invernada
E a gaúcha a mulher que foi no laço
Teve a coragem de deixar das gauchada
Hoje só resta minha pobre cordeona
Mas um gaúcho sem mulher não vale nada
Hoje só resta minha pobre cordiona
Mas um gaúcho sem mulher não vale nada
Tenho vontade correr o Brasil
Pra isso estou entusiasmado
Deixar meu rico céu de anil
E correr todos vinte e dois estados
À Paraná e Santa Catarina
Ir a São Paulo e Rio de Janeiro
À Ceará e depois Brasília
E um pedaço do torrão mineiro
Ao Pernambuco que é terra de açúcar
E trazer cheio um açucareiro
Para guardar de recordação
Porque é produto nosso brasileiro
Tenho vontade cantar o Pará
E lá no Acre o povo acreano
E na Amazonas terra da borracha
Em Alagoas para os alagoanos
Tenho vontade ir ao Maranhão
Ir ao Sergipe ver os sergipanos
Fazendo os versos no requebradinho
Lá na Bahia para o povo baiano
Quero cantar Espírito Santo
Depois voltar ao Piauí
Quero chegarem Rio Grande do Norte
Ver as belezas que eu ainda não vi
E em Paraíba tem mulher valente
Sou obrigado a chegar por ali
Em Mato Grosso vou ficar três dias
Vou montar em pelo numa Sucuri
Depois então eu volto conformado
Vinte e dois estados eu já conheci
Um certo dia num carreiramento
Andei peleando lá pelo corredor
Tava peleando com mais de um cento
E uma china então saiu a meu favor
Pregou-lhe o grito e entrou no rodeio
E puxou logo a espada da cintura
O menor talho que ela deu foi palmo e meio
Que coube dentro umas quarenta rapaduras
Aquela china veia chegava dar rodeio
para quatro ou cinco policia, siô
Parou a briga e eu levei a china
E no local então ficou algum defunto
Parece até que aquilo era nossa sina
Matar alguém para depois nóis viver junto
Levei a china lá pra o meu ranchinho
E ela quem me prepara o chimarrão
Tomemo o verde abaixo de carinho
Só se cuidando de alguma traição
Mulher valente assim não dá em toceira rapaziada
Mulher valente no rancho é um respeito
Porque se acaso qualquer um gavião
Querer da china arrancar proveito
Pois pode crer que ele entra no facão
Eu no meu rancho me vendo agredido
Dou tantos tiros de fazer defunto
A china velha dá um nó no vestido
Vem pro meu lado e peleia junto
Se você um dia prometesse a mim
Que por aventura me dava o amor,
Eu ia montar no potro mais xucro
E fazer proezas sem ser domador.
Eu ia montar só pra o povo ver
Como é bonito quando a gente quer,
Se quebra o pescoço, se arriscar morrer
Só pelo amor de uma linda mulher.
Eu era capaz de um dia pelear
Já que eu na vida nunca fui valente
Mas por você eu toreio a polícia
Contrareio as leis de qualquer presidente.
Me sinto capaz de pegar um tigre a unha
Montar em pêlo em qualquer um leão
Atravessar o oceano a nado
Para conquistar teu meigo coração.
E se tu disseres, gaúcho eu gostei,
Eu me sinto entregue por tuas proeza
Nós de acordo chegamos na lei
E eu serei dono da tua beleza.
Aí eu vou ver o lucro que tive
De toda arriscada que no mundo eu fiz
Se eu perco a vida, eu pouco me importo
Também se me salvo sou um homem feliz.
De madrugada quando dia vem raiando
Eu tô tomando no meu rancho chimarrão
E pra tristeza não ser muita no ranchinho
A acordeona faz carinho e alegra meu coração?
Ah acordeona tu te recorda da tua dona?
Ah acordeona tu te recorda da tua dona?
Quando enxergo teu retrato na parede
Eu fico doido perco a sede me deito não tenho sono
Minha acordeona reconhece a pobrezinha
Que a gaúcha que era minha tá na mão do outro dono
Ah acordeona tu te recorda da tua dona ?
Ah acordeona tu te recorda da tua dona?
Minha acordeona quando toca sempre diz
Que ao infeliz também chegará seu dia
Se acordeona disser isso com certeza
Leve a tristeza e depois traga a alegria
Ah acordeona tu te recorda da tua dona?
Ah acordeona tu te recorda da tua dona?
Eu já te amei como os anjos amavam a lira
Eu já te adorei como anjos adoram a Deus
Mas não enxergo em teu olhar esperança
Até nem quero ser feliz nos braços teus
Ah acordeona da um desprezo na tua dona?
Ah acordeona da um desprezo na tua dona?
Nossa vida é uma estrada com diversos corredor
Tem muitas encruzilhadas na picadinha do amor
Tem trecho duro, bem firme outros com atolador,
Cada um tem sua estrada seja do jeito que for.
Na estrada da minha vida tive muitas decadências
Muito atrapalho na estrada, mas nunca usei violência
Fui carregando a mochila com calma, jeito e paciência
Quanto mais brava a estrada mais eu mostrei resistência.
Na velha estrada da vida hoje eu descanso um pouquinho
Encontrei uma viajanta que ia pro mesmo caminho,
Ela foi, me convidou, pra nós viajar juntinho,
Daquela data em diante não viajei mais sozinho.
Eu hoje tou numa estrada só de amores e carinho,
Nós fizemos uma empreitada, mas vamos devagarinho;
Porém a nossa empreitada foi de abrir cinco caminhos
Hoje são mais cinco estradas pros nossos cincos filhinhos.
Eu na estrada da vida, eu sou desta opinião,
Isso é o conselho que serve para qualquer cidadão
Principalmente pra esses moços, velhos, solteirão
Todo homem sem mulher é um viajar sem condução.
Pedro Raimundo desculpe a confiança
Apesar que eu não te conheço bem
Quero que mande os versos por lembrança
Me explicando o jeito que a Mariana têm
Pedro Raimundo desculpe a confiança
Apesar que eu não te conheço bem
Quero que mande os versos por lembrança
Me explicando o jeito que a Mariana têm
Tô ansioso pra saber...
Faço a pergunta já desconfiado
Que eu me representa que vi a Mariana
Dando peleia para três soldados
Têm que ser ela se acauso não me engana
Faço a pergunta já desconfiado
Que eu me representa que vi a Mariana
Dando peleia para três soldados
Têm que ser ela se acauso não me engana
Está mulher que eu to te falando
É uma alta meia magricela
Parou rodeio para três brigadianos
E não puderam tomar conta dela
Está mulher que eu to te falando
É uma alta meia magricela
Parou rodeio para três brigadianos
E não puderam tomar conta dela
Esta china véia dava mais volta
do que porca em parafuso seu
Eu vendo a briga me lembrei daquela
Que há muito tempo foi a china tua
Que te deixava lavando as panelas
Agarrava as armas e saia pra a rua
Eu vendo a briga me lembrei daquela
Que há muito tempo foi a china tua
Que te deixava lavando as panelas
Agarrava as armas e saia pra a rua
Dia 24 de Agosto teve o mundo um arrepio
Teve um sol mas muito fraco
Foi um sol fraco e sombrio
E os astros se enfumaçaram
Com gestos de quem sentiu
E mesmo não é pra menos
Foi este o pai da pobreza
Aquele que nos tratava
Com tanta delicadeza
Quem nos deu tanta alegria
E hoje só nos da tristeza
Morreste gaúcho velho
Porém deixaste pedido
Pra não morrer, não matar
Não ferir, não ser ferido
Vamos forçar pra cumprir
As ordens do falecido
Apesar de que todos sabem
Que os gaúchos não são mansos
Mas nois temos que deixar
A sua arma em descanso
Mas se não fosse esta carta
O Brasil tava em balanço
Dr. Getulio me atenda
Este pedido que eu faço
O povo aqui não têm força
Sem a cana do teu braço
Peça licença pra Deus
E nos governe do espaço
Oh meu Deus esse gaúcho
Que foi pro céu e não vêm
Já governou quinze anos
Até cego sabe bem
Tinha força pra matar
Mas nunca matou ninguém
E por ele se matar
O Senhor dê o perdão
Porque ele se matou
Para não ver revolução
E já nasceu com esse instinto
Morrer sim, matar não
Tu no céu nois na terra
Hoje tudo mundo fala
Que teu pobre coração
Não merecia está bala
E o Brasil custa a encontrar
Um homem da tua iguala
Descansa Gaúcho velho
Tu no céu e nois aqui
E eu peço que Deus me atenda
Faça está praga cair
Dê-lhe uma cãimbra na língua
Nos que falavam de ti
Foi-se o homem do cavalo
Do chapéu das abas largas
Hoje este Brasil sem ele
Serão coisas muito amargas
Vamos rezar pela alma
Do Doutor Getulio Vargas